Eu não sei explicar o que uma pessoa com depressão sente. Não tem palavra que descreva. É um vazio. Não dá vontade de comer, de dormir, não dá vontade de fazer nada. Só chorar, chorar, chorar. Eu chorava 24 horas por dia, sozinha, afundada no sofá. Com certeza aquele sofá ficou com a marca do meu corpo de tanto que eu ficava deitada ali. Nessa época, eu estava na França. Logo depois da Olimpíada do Rio eu fui me apresentar no Paris Saint-Germain. Imagina, era um sonho jogar no PSG. Mas eu nem ligava. Eu não pensava na minha carreira, no meu início no futebol, em nada. Para mim eu nunca mais ia chutar uma bola. Eu queria voltar para Osasco e esquecer tudo.
Saí direto daquela derrota no Rio para Paris. Eu não descansei, nem tive tempo de afogar as mágoas com minha mãe e meu pai. Foi só uma semana com a minha família, nem isso. Não era culpa do PSG, eu sei que o problema era comigo. Eu fiquei uma temporada toda só focada em trabalho, só pensava na Olimpíada no Brasil, que a medalha tinha que vir, que perder não era uma opção. Quando a derrota no Rio aconteceu, do jeito que aconteceu, foi uma merda.
Perdemos a Olimpíada em casa, terminei um relacionamento longo, perdi minha avó. 2016 foi um ano para jogar na privada e dar a descarga.
Nos últimos 4 anos, eu só pensava em uma medalha olímpica no Brasil. Eu criei uma expectativa enorme em cima daquilo, em cima de mim mesma. Só que estalou o dedo e foi embora. Tudo acabou praticamente em dois jogos por causa da lesão na coxa direita que tive no segundo jogo. Se machucar em competição assim é péssimo, porque é tiro curto e é muito difícil se recuperar para voltar a tempo. Eu fazia fisioterapia de madrugada, à tarde, em qualquer horário que você possa imaginar. Eu dormia tarde, porque eu queria voltar logo. Mas, lá no fundo, você sabe que não vai dar para voltar, que não vai dar tempo. Mas você é tão teimosa e acredita tanto que aquilo vai dar certo, que cria uma expectativa. Eu fiquei de fora o tempo todo acompanhando e ao mesmo tempo com esperança de 'eu vou Conseguir?.
Eu voltei da lesão no jogo contra a Suécia, já na semifinal. Mas não estava 100%. Eu tinha perdido todo o condicionamento que tinha ganhado, estava cansada. O professor fez a lista para bater pênalti e eu levantei a mão porque queria ajudar. Eu sempre quero ajudar, fazer. Talvez não fosse o momento para participar daquilo. O estádio estava lotado, o Brasil inteiro estava apoiando, esperando que você fizesse aquilo e aí quando eu errei só senti um negócio assim... O que eu fiz? A gente poderia ter sido eliminada por causa do meu pênalti, mas em seguida a Bárbara conseguiu pegar o outro. Quando a Andressinha perdeu e veio o apito final, é quando você tem noção. Acabou. Eu já desanime ali.
Quando foi para a disputa de terceiro e quarto lugar, eu não estava bem. E perdemos de novo. Imagina como fica a sua cabeça?!
Ninguém pensa que jogadora de futebol é gente normal. Ninguém fica o tempo todo pensando em bola e gol. Se eu não tenho compromissos profissionais, aproveito cada momento livre da forma mais normal possível. Acho que é como todo mundo gosta, né?! Com a família e amigos. Eu não preciso de muito para me divertir. Final de semana é curtir com os amigos, minha família, sair para um bar, fazer uma festa. Eu sempre gostei de música alta e de falar com todo mundo, então se tem algo errado comigo, as pessoas vão perceber. Só que eu sou de Osasco, minha família toda mora lá e jogadora de futebol não consegue levar todo mundo junto quando se transfere para a Europa, como acontece no masculin... - Veja mais em https://esporte.uol.com.br/reportagens-especiais/minha-historia-cristiane-rozeira/#tematico-4?cmpid=copiaecola